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2.10.08

personagens urbanos








Perambulando pela cidade, esbarramos com alguns personagens[1] que investimos de sentido e tomamos como fio condutor desta proposta. São grafiteiros, moradores-ocupantes-invasores de terrenos abandonados, artistas de rua, grupos de manifestações populares, camelôs, ambulantes, integrantes de grupos de rap e hip hop, minorias organizadas, skatistas, etc.. A princípio, o que os une nessa seleção de personagens urbanos, é o fato de estarem mais propensos a experimentar e produzir a cidade a partir de racionalidades outras que não as comumente utilizadas pelo mercado e (também) pelo poder público. Movem-se pelas brechas da cidade, na contramão dos efeitos da ação hegemônica, reinventam-se constantemente em um território que, se não impede, dificulta sua presença, configurando no tecido urbano espacialidades conquistadas e formalizadas na dimensão do cotidiano. Embora agrupados, os personagens possuem particularidades, motivações e trajetórias próprias, assim como relacionam-se com o meio urbano também de forma particular, diversa e mutável. São personagens que se cruzam no espaço, tecem territórios comuns e/ou divergentes, coexistem e sobrepõem-se na trama da cidade.

Tomando em destaque a relação destes personagens com a constituição de territórios e territorialidades, é possível pensar que o espaço pode ser experimentado e vivenciado, por exemplo, como suporte pelos grafiteiros, como propriedade por um grupo de sem-teto em busca de moradia, como lugar de rito pelos praticantes de festividades religiosas, como fluxo pelos camelôs e ambulantes, como lugar de protesto pelos grupos de rap e hip hop, como desafio e lazer pelos skatistas, ou como lugar de articulação para as minorias organizadas. Estas diferentes possibilidade de experimentação e prática da cidade sobrepõem-se no espaço, coexistem, tangenciam-se, contaminam-se e atualizam-se em uma relação espaço-temporal continuamente alterada por novos e constantes agenciamentos (DELEUZE & GUATTARI, 1995). Ao considerarmos ainda que cada um destes personagens possui uma atuação específica nas diferentes instâncias e dimensões de sua vida (família, trabalho, lazer, rede de amizades, etc.), é certo que as relações, práticas e experimentações do espaço urbano por estes personagens se realizem de forma múltipla.


[1] A denominação personagem foi aqui utilizada não no sentido literário de criação ou ficção. O personagem aqui é utilizado para denominar um grupo de pessoas reais, moradores, habitantes das cidades, que possuem relações semelhantes com o espaço ao desempenharem determinadas práticas urbanas.

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