[em construção]
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"La ciudad real, en cambio, se habría quedado sin mapas: es un palimpsesto (otra figura reiterada) que sólo puede conocerse rasgando las capas superficiales de homogeneidad social y cultural, recorriendo sus estratos de tiempos y espacios heterogéneos, para lo cual sólo sirve atravesarla y experimentarla, identificar sus relatos e itinerarios proliferantes."
[GORELIK, Adrián .Imaginarios urbanos e imaginación urbana. Para un recorrido por los lugares comunes de los estudios culturales urbanos
A possibilidade de pensar e entender a existência de formas de produção da cidade que fujam a lógica dominante da subjetividade capitalística[1] é o que move este projeto. Trata-se de voltar o olhar para outras possibilidades, outros caminhos, outras iniciativas, outras dinâmicas existentes tomando como ponto de partida iniciativas e ações que acontecem na escala do cotidiano[2]. São formas de produção e apropriação que embora possam não ser facilmente apreensíveis (talvez até impossíveis se utilizados métodos ortodoxos e cartesianos de análise e sistematização) são inegavelmente determinantes para a constituição do espaço e das relações sociais na cidade. Pulsam por praticamente todo o meio urbano, permeando fluidamente espaços “luminosos e opacos”[3], “lisos e estriados”[4], utilizando-se de meios técno-científicos arcaicos ou das tecnologias mais avançadas. São processos e relações híbridas que, embora muitas vezes ignoradas, (intencionalmente ou não) pelos reguladores, construtores e propositores “oficiais” da cidade, fazem da sua existência uma reinvenção constante.
O que se não vê não se vê porque não se pode ou quer ver, mas sim porque não existe. Os limites do olhar são, assim, exteriores ao olhar. Levado ao extremo, este sistema de representação é tanto mais transparente quanto mais vasta for a opacidade activamente produzida. (SANTOS, Boaventura, 2007: 192).
Olhar para este cotidiano e tentar expandir os limites deste olhar na tentativa de enxergar as diferentes nuances da experimentação que permeia os espaços do urbano. De Certau, um dos pensadores que aborda o cotidiano, também destaca a questão do olhar como um determinante para o entendimento das relações e práticas que acontecem na cidade.
Tudo se passa como se uma espécie de cegueira caracterizasse as práticas organizadoras da cidade habitada. As redes dessas escrituras avançando e entrecruzando-se compõem uma história múltipla, sem autor nem espectador, formada em fragmentos de trajetórias e em alterações de espaços: com relação às representações, ela permanece cotidianamente, indefinidamente, outra. (DE CERTEAU, Michel, 1994: 171).
De Certeau (1994) chama estes vivenciadores[5], que transitam por onde cessa a visibilidade, de “praticantes ordinários da cidade” Caminhantes, pedestres, cujos corpos obedecem ao “texto urbano” de um espaço que não vêm, mas ao mesmo tempo possuem um conhecimento cego. É possível encontrar estes praticantes ordinários encarnados em diversos personagens que vivenciam a cidade. Milton Santos (1996; 2005) que denomina de espaço banal este espaço vivido por todos, este território de todos, chama de “homens lentos” aqueles que conhecem os lugares e necessitam deste conhecimento para a sua sobrevivência (RIBEIRO, 2005). Assim como os praticantes ordinários, os homens lentos também assumem diferentes corpos na cidade, e, como quaisquer personagens, assumem diferentes máscaras como estratégia de sobrevivência e satisfação de necessidades e desejos[6].
[1]GUATTARI & ROLNIK, 2005.
[2] O cotidiano é entendido aqui como espaço-tempo inventado pelo homem ordinário através da sua arte de fazer, táticas e práticas pelas quais ele altera os objetos e códigos, se reapropria do espaço e do uso a seu jeito, numa ampla liberdade em que cada um procura viver do melhor modo possível a ordem social das coisas (DE CERTEAU, 1994).
[3] SANTOS, SILVEIRA,2001.
[4] DELEUZE & GUATTARI, 1997.
[5] Expressão utilizado pela Internacional Situacionista.
[6] ROLNIK, 2007.
[7] A denominação personagem foi aqui utilizada não no sentido literário de criação ou ficção. O personagem aqui é utilizado para denominar um grupo de pessoas reais, moradores, habitantes das cidades, que possuem relações semelhantes com o espaço ao desempenharem determinadas práticas urbanas.